• Arquivo do GGB agora em Curitiba

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16/09/2024 por 

Luiz Mott
A TARDE, 02-08-2019

Desde que fundei o Grupo Gay da Bahia, em 1980, estudioso tarimbado na pesquisa de arquivos históricos, tive sempre grande cuidado em conservar e catalogar tudo que ia sendo escrito e publicado sobre nossa ONG e a respeito da homossexualidade e transexualidade em geral, no Brasil e no mundo. Ao longo desses 40 anos de existência, reunimos volumoso e riquíssimo material sobre o movimento LGBT que por falta de condições materiais de conservação em Salvador, decidimos transferir um total de 200 caixas de arquivo (35x25x15cm) para o Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott, localizado no Grupo Dignidade de Curitiba, atualmente a mais dinâmica e bem estruturada ONG LGBT do país, material que será disponível gratuitamente na internet, totalmente digitalizado.

O acervo desse precioso arquivo, o maior do Brasil, quiçá da América Latina, contem milhares de recortes de jornal sobre todo o universo LGBT; outro tanto de folhetos, folders, cartilhas, livros e artigos; milhares de fotos, gravuras, cartões postais, cartazes, posters, vídeos, incluindo diversificada sessão relativa à epidemia da Aids. Particularmente preciosa é a coleção de cartas recebidas pelo GGB de todo Brasil e exterior, material que certamente há de servir de background para dissertações e teses sobre o cotidiano e imaginário de transexuais, lésbicas e gays, cartas denunciando a intolerância familiar e as agruras da vida das “bichas, travecas e sapatões”. Parte desse material epistolar, dezenas de missivas de gays cubanos desejosos de encontrar um companheiro brasileiro que os resgatasse da cruel homofobia de Fidel e Che Guevara.

O GGB, em suas sedes próprias, primeiro na Barroquinha, depois na Rua do Sodré no Dois de Julho e há 20 anos na Rua Frei Vicente, Pelourinho, sempre funcionou como um acolhedor guarda-chuva para outras ONGS associadas, arquivando igualmente documentação do Grupo Lésbico da Bahia, Associação de Travestis e Transexuais de Salvador, Grupo Quimbanda Dudu de Negros LGBT, Centro Baiano Anti-Aids, Grupo Vida Feliz de Portadores de HIv-Aids e Editora GGB.

Lastimavelmente, em 2015 nosso arquivo foi invadido por um bando de vândalos, que dilapidaram aproximadamente 1/3 de nosso acervo, vendendo esse preciosíssimo tesouro como papel velho. Até hoje choramos lágrimas de sangue! Aliás, idêntica triste sina também atingiu o rico patrimônio do pioneiro jornal Lampião da Equina, que teve como seu último editor/zelador o novelista global Agnaldo Silva. E foi exatamente para evitar nova sangria e disponibilizar via internet esse precioso acervo que o GGB decidiu pela sua transferência para local mais seguro. Longa vida à memória do GGB, chamado por Caetano Veloso de “orgulho da Bahia!”.

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