Por: Izabela de Paula Gomes
O Brasil vem ocupando nos últimos anos o primeiro lugar no ranking de países do mundo que mais matam pessoas LGBTQIA+. Segundo dados divulgados pelo Observatório de Mortes e Violências contra pessoas LGBTI+, entre janeiro e abril de 2023 foram registrados 80 assassinatos de pessoas LGBTI+, sendo que a população de travestis e mulheres trans representa 62,50% do total de mortes (50); os gays, 32,5% dos casos (26 mortes); homens trans e pessoas transmasculinas, 2,5% (duas mortes); e mulheres lésbicas, 2,5% (duas mortes).
Os desafios enfrentados por esse grupo englobam dificuldades no acesso ao mercado de trabalho, a saúde e educação. De acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo Center for Talent Innovation, 61% dos funcionários gays e lésbicas escondem sua sexualidade de gestores e colegas de trabalho devido ao medo de perderem o emprego. A situação se agrava em relação a indivíduos trans e travesti, quando 90% se prostituem por não terem conseguido nenhum outro emprego apesar da qualificação pessoal (Fundo Brasil, s\d).
No campo da saúde, por exemplo, o despreparo dos profissionais é constatado pela resistência em aceitar o nome social. Já na educação a LGBTfobia é um dos grandes problemas relatado por estudantes, onde 73% dos alunos já sofreram agressões verbais devido sua orientação sexual de
acordo com a última pesquisa feita pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Além dos desafios enfrentados, os direitos já conquistados pelo movimento LGBTQIA+ entrou em discussão no âmbito jurídico. O casamento homoafetivo reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal desde 2011 foi assunto na comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da câmara dos deputados que aprovaram no último dia (10) de outubro o projeto que proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo. A ação ainda deverá ser analisada por outras comissões.
Diante da luta pela cidadania e direitos as pessoas LGBTQIA+, Toni Reis é tema de pesquisa desenvolvida pela historiadora Izabela de Paula Gomes, 24, mestranda no Programa de Pós-Graduação em História Pública pela Universidade Estadual do Paraná, Campo Mourão. O estudo, orientado pelo professor Dr. Frank Antonio Mezzomo, busca compreender a atuação de Toni Reis e do Grupo Dignidade e suas reverberações no espaço público. Identificamos que, a despeito da atuação intensa por mais de 30 anos, temos poucas pesquisas que exploram as mobilizações do movimento homossexual no Paraná.
Antonio Luiz Harrad Reis, que posteriormente ficou conhecido como Toni Reis, é professor, ativista e um dos fundadores do Grupo Dignidade, instituição precursora em defesa da cidadania LGBTQIA+. Atuando desde 1992 em Curitiba, Paraná, a instituição se tornou a primeira organização LGBTI+ no Brasil a receber o título de Utilidade Pública Federal, por decreto presidencial em 1997. Atualmente promovem campanhas, ações no atendimento aos LGBTQIA+ e iniciativas voltadas para área educacional, saúde e acompanhamento jurídico e psicológico.
Toni Reis, nasceu em Limeira, distrito de Coronel Vivida, sudoeste do Paraná. É filho de Maria Conceição dos Reis e teve sete irmãos. Aos dez anos foi para Quedas do Iguaçu, Paraná, onde estudou no Colégio Estadual José de Anchieta. Na adolescência viveu um processo de conflito pessoal ligado à sua religiosidade, pois almejava se tornar padre ao mesmo tempo que se descobria como homossexual. Segundo ele, a homossexualidade não é opção nem escolha, afinal “ninguém optaria ou escolheria ter uma orientação sexual ou identidade de gênero que fizesse dele motivo de chacota, rejeição e exclusão” (Família Harrad Reis, 2021, p. 232).
Aos 20 anos iniciou o curso de Letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR), se formando em 1989. Após a graduação foi para a Inglaterra, se engajando no ativismo internacional. Em Londres conheceu David Harrad, com quem passaria a viver em união estável e, em 2018, oficializaria o casamento no civil na Igreja Anglicana. Ao voltar para o Brasil em 1992, funda com seu companheiro, e alguns amigos, o Grupo Dignidade, com objeto de promover diálogos e compartilhar vivências, questionamentos, dúvidas e discussões de ideias (Grupo Dignidade, 2008).
Na busca pela discussão da temática na academia, a pesquisa considera as experiências de indivíduos comuns que tiveram suas histórias apagadas compreendendo a importância dessas memórias na dinâmica social. Assim, com mais de 30 anos de luta em defesa da comunidade LGBTQIA+, Toni Reis enfatiza “a lição de vida que aprendemos é que vale a pena lutar pelos direitos, persistir e não desistir quando esses estão sendo violados ou não estão sendo cumpridos” (Família Harrad Reis, 2021, p. 125).
Referências
As dificuldades enfrentadas pelas pessoas LGBTQIA+. Fundo Brasil. Disponível em: https://www.fundobrasil.org.br/blog/as-dificuldades-enfrentadas-pelas-pessoas-lgbtqia/. Acesso em: 16 out, 2023.
Dossiê denuncia 273 mortes e violências de pessoas LGBT em 2022. Observatório de mortes contra pessoas LGBTI+. Disponível em: https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/dossie/mortes-lgbt-2022/. Acesso em: 16 out, 2023.
GRUPO DIGNIDADE. Uma história de dignidade – Contribuindo para a construção da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Curitiba: Grupo Dignidade, 2008
REIS, Toni; HARRAD, David. Família Harrad Reis: de todas as cores e todos os amores. Artêra Editorial: Curitiba, 2021.
sidinei thopp
05/05/2024 at 4:07 PM.
Ser é importante para a pessoa se identificar, saber ser, torna a pessoa completa em sua essência.